Ciranda das Deusas - por: Heloísa Monteiro de Moura Esteves
Que Perséfone
Com seu olhar de ver além
Nos abra os caminhos
Para que a maravilhosa energia de Afrodite
Nos invada o corpo e a alma
Com a liberdade e o destemor de Ártemis
E com o acolhimento de Deméter...
Que a sabedoria de Atena nos conduza sempre
Nos bons e nos maus momentos
Nos fazendo honrar o poder de Hera...
Que o feminino se reconstrua nestes novos tempos
Restaurando a antiga ordem esquecida
Que o feminino cure o Planeta
E que a Grande-Mãe retorne à Terra...
Libertação - por: Heloísa Monteiro de Moura Esteves
Que se desatem os nós
Se soltem as amarras
E ressurjam
A sábia anciã
A velha bruxa
A feiticeira encantada
A amante fogosa
A mulher verdadeira
Inteira
Com asas de fogo
E pés na terra
Doces mistérios
Mulher real...
Resgate - por: Heloísa Monteiro de Moura Esteves
Feminino
Adjetivo complexo
Mulher
Substantivo plural
Tecer a trama da vida
Gerar
Carregar no útero
Sangrar
Parir
Feminino
Adjetivo plural
Mulher
Substantivo complexo
Resgatar o espaço interno
Conversas de comadres
Ao pé do fogão
Amassar o pão
Tecer os fios
Tramar os destinos
Bordar
Cerzir
Criar
Emprestar o útero à vida
Menstruar
Parir
Amamentar
Doar
Cumplicidade esquecida
É preciso resgatar
O encanto
E re-aprender
O caminho
Do retorno
Para o templo interior
Mulher inteira
Verdadeira
Bruxa
Feiticeira
Mãe
Amante
Alcoviteira
Mulher com asas de fogo
Poder feminino
Adjetivo complexo
Mulher
Substantivo plural
Apelo - por: Heloísa Monteiro de Moura Esteves
Mãe Terra
Espaço sagrado
Gaia
Planeta Água
Solto no espaço sem fim...
Tocam-se os tambores
Liberam-se os aromas
Novas energias
Percorrem todo o meu ser
Mãe Terra
Ventre que me gerou
Fonte da vida
Destino certo do meu corpo
Um dia inerte
Tocam-se os tambores
Dissipam-se as névoas
Novas energias
Circulam dentro de mim
Mãe Terra
Zona de livre arbítrio
Reduto de sombra e de luz
Dá-me força
Para que tudo se transforme
Se transmute, se altere
E a profecia se faça sentir...
Alquimia - por: Heloísa Monteiro de Moura Esteves
Fundir no caldeirão
Toda a mágoa
Toda a dor
Transmutar em alegria
Como o louco alquimista
Toda a mágoa
Toda a dor
Dissolver dissipar
A treva
E deixar que tudo se transforme em luz
Em amor
Em expansão do ser
Viver
Desafio constante
Perdoar
Transcendência emergente
Para evoluir
Crescer
Eu Sou uma Mulher - por: Marina Colasanti
Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar
Os homens vertem sangue
por doença
sangria
ou por punhal cravado,
rubra urgência
a estancar
trancar
no escuro emaranhado
das artérias.
Em nós
o sangue aflora
como fonte
no côncavo do corpo
olho-d'água escarlate
encharcado cetim
que escorre
em fio.
Nosso sangue se dá
de mão beijada
se entrega ao tempo
como chuva ou vento.
O sangue masculino
tinge as armas e
o mar
empapa o chão
dos campos de batalha
respinga nas bandeiras
mancha a história.
O nosso vai colhido
em brancos panos
escorre sobre as coxas
benze o leito
manso sangrar sem grito
que anuncia
a ciranda da fêmea.
Eu sou uma mulher
que sempre achou bonito
menstruar.
Pois há um sangue
que corre para a Morte.
E o nosso
que se entrega para a Lua.